quinta-feira, março 11, 2004

Quando me amei de verdade

Quando me amei de verdade pude compreender que qualquer circunstância, eu estava no lugar certo , na hora certa. Então pude relaxar.
Quando me amei de verdade pude perceber que o sofrimento emocional é sinal de que estou indo contra a minha verdade.
Quando me amei de verdade parei de desejar que a minha vida fosse diferente e comecei a ver que tudo o que acontece contribui para o meu crescimento.

Quando me amei de verdade comecei a perceber como é ofensivo tentar forçar alguma coisa ou alguém que ainda não está preparado- inclusive eu mesma.
Quando me amei de verdade comecei a me livrar de tudo o que não fosse saudável. Isso quer dizer: pessoas, tarefas, crenças e qualquer coisa que me pusesse prá baixo. Minha razão chamou isso de egoísmo. Mas hoje eu sei que é
amor-próprio.
Quando me amei de verdade deixei de temer meu tempo livre e desisti de fazer planos. Hoje faço o que acho certo e no meu próprio ritmo. Como isso é bom!
Quando me amei de verdade desisti de querer ter sempre razão, e com isso errei muito menos vezes.
Quando me amei de verdade desisti de ficar revivendo o passado e de me preocupar com o futuro. Isso me mantêm no presente, que é onde a vida acontece.
Quando me amei de verdade percebi que a minha mente pode me atormentar e me decepcionar. Mas quando eu a coloco a serviço do meu coração, ela se torna uma grande e valiosa aliada.

Trechos do Livro: "QUANDO ME AMEI DE VERDADE" Kim McMillen & Alison McMillen )

Enquanto isso...

Enquanto isso, no Hospital Santa Maria:

- Bom dia, é da recepção? Eu gostaria de
falar com alguém que me
desse informações sobre os pacientes. Queria
saber se certa pessoa
está melhor ou piorou...

- Qual e o nome do paciente?

- Chama-se Maria Isabel e está no quarto
302.

- Um momentinho, vou transferir a ligação
para o setor de
enfermagem...

- Bom dia, sou a enfermeira Lourdes. O que
deseja?

- Gostaria de saber as condições clínicas
da paciente Maria
Isabel do quarto 302, por favor!

- Um minuto, vou localizar o médico de
plantão.

- Aqui é o Dr. Carlos plantonista. Em que
posso ajudar?

- Olá, doutor. Precisaria que alguém me
informasse sobre a
saúde de Maria Isabel que está internada há três
semanas no quarto
302.

- Ok, minha senhora, vou consultar o
prontuário da paciente....
Um instante só! Hummm, aqui está: ela se
alimentou bem hoje, a
pressão arterial e pulso estão estáveis, responde
bem à medicação
prescrita e vai ser retirada do monitor cardíaco
até amanhã.
Continuando bem, o médico responsável assinará
alta em três dias.

- Ahhhh, Graças a Deus! São notícias
maravilhosas! Que alegria!

- Pelo seu entusiasmo, deve ser alguém
muito próximo,
certamente da família !?

- Não, sou a própria Maria Isabel,
telefonando aqui do 302! É
que todo mundo entra e sai do quarto e nunca me
dizem merda nenhuma!

Saudade

por Ana Miranda



Os meus amigos niilistas diriam que a saudade não existe, que não existe a saudade de um país, de um neto distante, da mulher amada, da aurora de nossas vidas que os anos não trazem mais, diriam que aquilo que chamamos saudade é apenas um sentimento de que perdemos alguma coisa nossa dentro de nós mesmos e não somos capazes de encontrar, diriam que saudade é apenas a nostalgia do outro, que sentimos saudades do que gostaríamos de ser, saudades do futuro, saudades do paraíso, do que não soubemos agarrar, do que não pudemos viver, do que nos foi oferecido e deixamos escapar, e o nome verdadeiro da saudade seria possessividade, ah teorias, diriam que sente saudades aquele que não ama a si mesmo o bastante para se bastar a si mesmo, mas, meu Deus, quem é o bastardo que se basta a si mesmo? Somos todos órfãos de nós mesmos, Clarice Lispector escreveu a bela frase, Ah quando eu morrer vou sentir tanta saudade de mim... e diriam que sentimos saudades de nós mesmos, mas seja assim, seja assado, a saudade dói, e como dói, e parece que mais da metade da humanidade passa mais da metade da vida sentindo saudade, seja a saudade assim ou assada e tenha este nome ou tenha outro, a verdade é que ela fica ali como um buraco no peito, um vazio, uma frente fria que não passa, uma muda cotovia, a saudade é uma contra-flor, diria o poeta Marco Lucchesi, a saudade é a sombra do nada, a superfície do nada, o não-perdão por aquilo que se foi, ou que nunca foi nem é e nem será, e vagamos à procura de um rosto, de uma infância, de um país, de um paraíso perdido, em estado de quase, o quase-ser no quase-dia, e a saudade nos deixa sensíveis, pálidos e felizes, reclamando a vida, ansiando o outro, invadidos pela inquietação dos anjos, e cheios de pedaços perdidos aos nossos pés ou dentro de nós graças a Deus, e somos escritos pelo vento, perto do fundo das coisas, tomados das memórias, das miragens e dos sonhos que, de outro modo, não poderíamos ver.



Ana Miranda é escritora, autora de Boca do Inferno, Desmundo, Dias & Dias, Deus-dará, entre outros livros.
www.anamirandaliteratura.hpg.com.br