domingo, dezembro 26, 2004

A verdade, uma grande mentira.

Mentira, uma grande verdade

De plágios e control cs da vida estou fazendo uma pequena coletânea de um tema interessante "A verdade" e suas nuances... uma coletânea encontrada ao acaso (de dois artigos em verdade) mas que vêm a calhar...
O primeiro artigo cai como uma luva. Além de falar sobre este tema tão sútil que é a verdade ( a verdade de cada um, ou o que tornamos verdade,...) também nos traz a figura da avó ...
Avó mãe da mãe ou do pai, figura tratada pela sociedade geralmente como alguém doce, meiga até ingênua, mesmo com a experiência dos anos. O que já não fizeram com nossas avós em prol de histórias vils? Vozinhas de plantão por serem sinônimo da bondade e ternura, relíquia nobre das famílias, por vezes são usadas para ocultar o real, ou representar uma "verdade imaginária" para aquele que está prestes a ser enganado.
No entanto, por que será que homens mentem (ou reformulam a verdade) para "suas" mulheres? Por que será que as mulheres omitem histórias para "seus" homens? Por que será que todo mundo eventualmente é hipócrita?
Fraqueza, seria a primeira resposta. Sintética e curta. Fraqueza, por não estar disposto a enfrentar o desconforto do outro, por não querer magoar o outro, por não querer "perder tempo" dando maiores explicações ou, por que simplesmente julgar não ter maior importância o fato a ser ocultado. Pela razão que for a fraqueza se aplica.
Agora, se todo mundo já mentiu, omitiu ou sucumbiu um dia, por que nos sentimos tão mal quando descobrimos que alguém mentiu para nós? Por que nossa primeira reação é condenar a pessoa? Por que não podemos admitir a fraqueza alheia, se também fomos fracos um dia?
É difícil descobrirmos que estamos rodeados de seres humanos tão problemáticos e defeituosos quanto nós mesmos. É difícil descobrir que é preciso coragem para ser fiel a verdade o tempo todo. E parece praticamente impossível perdoar a nós mesmos quando nos descobrimos fracos diante da verdade que nos açoita e nos condena a enfrentá-la mais cedo ou mais tarde.
A verdade da verdade, para mim, parece com aquele ditado " Se correr o bicho pega, se ficar o bicho come". Depois que a enfrentamos, se olharmos para trás veremos que não foi tão ruim assim. O novo, o agora, pode ser gigantesco e aterrador, mais só é assim por que o desconhecemos.
Agora vamos às outras verdades...

Peixe Grande é a minha avó

Assisti ao filme Peixe Grande, do Tim Burton, e achei fantástico. Motivos para isso não faltam. Primeiro o lindo cenário e fotografia que sempre são maravilhosos nas películas do diretor. Depois a historia, que, apesar de ser previsível, emociona e acredito que todos esperam que o final seja o que parece que vai ser.
Uma das coisas que mais me chamou a atenção no roteiro foi a relação entre pai e filho e a tênue linha que separa a mentira da verdade. Relacionar-se com qualquer um é complicado, imagina com quem você está junto todo dia, que mesmo querendo tudo de bom pra você comete vários erros e também vê e aponta seus erros. Não é fácil. No filme, o amor quebrou todas as barreiras e venceu, mas na vida real, infelizmente, nem sempre é assim. Mas também não custa muito tentar que seja.
Tenho pra mim que tudo que não é verdade é mentira, que não existe meia verdade ou meia mentira, mas também não sou louco de dizer que não existem mentiras que são do bem. Esse tipo de embuste geralmente é usado a favor dos outros e não para satisfação própria. Isso acontece quando, por exemplo, alguém diz que o outro pode conseguir algo, mesmo, no íntimo, achando que ele não vai conseguir. Esse apoio pode ser um grande passo para a pessoa superar seus obstáculos ou pelo menos tentar.
No enredo, o personagem principal mentia tanto que isso o separou do seu filho. Contudo, a grande questão era: que mal ele fez ao outros? Parece que nenhum, pois ele sempre ajudou os amigos e sempre fez tudo para ser uma pessoa honesta e feliz. Provavelmente ele achava que deixando suas histórias fantásticas pelo caminho alegraria a todos ao seu redor e seria uma pessoa especial.
Minha avó me conta várias histórias que tranqüilamente poderiam entrar no filme do Tim Burton. Acredito piamente que ela viveu aqueles fatos ou mesmo que a imaginação a tenha transportado para situações onde ela nunca esteve, mas pensou estar. Muitas aventuras ela me conta várias vezes, desde de minha infância, e como tenho boa memória sei que dificilmente ela muda uma vírgula sequer. Entre cobras gigantes, lobisomens ou mulas-sem-cabeça existe um tempo onde a imaginação era quase tudo. E a televisão nem existia.
Um dos contos que mais gosto é sobre uma mula-sem-cabeça (uma mulher que tinha caso com um padre), que ela diz ter visto quando estava debaixo de uma cama, na casa de quem não me lembro. Mas me recordo que quando ouvi esta história fiquei bem amedrontado e rezei para nunca ter que passar por isso. Perguntar pessoas mais velhas, que moraram no interior, se existe lobisomem é o mesmo que perguntar para um ufólogo se existem óvnis. Apesar de nunca tê-los visto, a certeza de que eles estiveram lá (aqui ou até acolá) é total.
Aventuras com cobras minha vó tem até não querer mais. As mais incríveis são de uma cobra que apareceu perto de onde ela morava, na beira de um rio, e veio, em pé (erguida) para cima das mulheres que lavavam roupas. Foi aí que apareceu o intrépido peão e com um tiro certeiro, no meio dos olhos do bicho, acabou com problema. Outra historia de ofídio aconteceu quando minha avó estava dentro de um carro, que passava por uma estrada de terra, em algum lugar do interior de Minas. Em certo ponto do caminho o motorista parou, pois havia um tronco interrompendo sua passagem. Entretanto, quando todos no veículo olharam melhor viram que na verdade o que havia na estrada era uma cobra gigante que atravessava de um lado para o outro. Depois que ela se foi, o carro passou e nada de mais grave aconteceu.
Sou fã do Tim Burton, de sua estética, roteiros e filmes, mas, contador de histórias por contador de histórias, sou muito mais minha avó.

Afim de saber a verdadeira verdade

Renato Kress
“Deve-se exigir de mim que procure a verdade, mas não que a encontre” – Diderot (1713 – 1784), pensamentos filosóficos.

Escrevendo para a seção de mitologia do revista CONSCIÊNCIA.NET, recebi uma crítica de um amigo que me lançou a pérola: ‘Por que perder tempo escrevendo essas historinhas? São só um bando de mentiras’. Provavelmente a palavra ‘mentira’ foi empregada como o conceito de ‘irrealidades’. A palavra mito não significa mentira, nem mesmo tem qualquer relação direta com a concepção latina (ver abaixo) da ‘verdade’, está relacionada a um aspecto simbólico da tal ‘verdade’, a um aspecto subjetivo e psicológico. Resolvi então estudar o que possa se chamar de ‘verdade’ em nossa sociedade e fazer um pequeno exercício.

“Verdade”, este parece ser, de imediato, o mais simples e o mais difícil dos conceitos. Quando afirmamos que uma proposição é ‘verdadeira’ damo-lhe nosso assentimento, mas baseados em quê?
Grego, latim ou hebraico? Nossa idéia de ‘verdade’ foi construída historicamente a partir do amálgama entre três tradições lingüísticas diferentes, vindas da cultura grega, que formou a base da cultura latina, que sofreu influência da hebraica.

GREGO
Em grego a palavra para ‘verdade’ é aletheia e significa ‘o não oculto’, ‘não escondido’, ‘não dissimulado’. O verdadeiro é o que se manifesta aos olhos do corpo e do espírito, a verdade é a manifestação daquilo que é ou existe tal como é. O verdadeiro, neste sentido, se opõe ao falso, ‘pseudos’, que é o encoberto, o escondido, o dissimulado, o que parece ser e não é como parece. Verdadeiro é o evidente, numa acepção quase ‘visual’ da palavra, o ‘verdadeiro’ é claro, delineado, estruturado, visível.
Assim, a verdade é uma qualidade das próprias coisas e o verdadeiro está nas próprias coisas. Conhecer é ver e dizer a verdade que está na própria realidade e, portanto, a verdade depende de que a realidade se manifeste, enquanto a falsidade depende de que ela se esconda ou se dissimule em aparências.
LATIM
“Falar a verdade é como escrever bem, e só se consegue pela prática” – Ruskin (1819-1900). Em latim, verdade se diz ‘veritas’ e se refere à precisão, ao rigor e à exatidão de um relato, no qual se diz com detalhes, pormenores e fidelidade o que aconteceu. Verdadeiro se refere, portanto, à linguagem enquanto narrativa de fatos acontecidos, refere-se a enunciados que dizem fielmente as coisas tais como foram ou aconteceram. Um relato é veraz ou dotado de veracidade quando a linguagem enuncia os fatos reais.
A verdade depende, de um lado, da veracidade, da memória e da acuidade mental de quem fala e, de outro, de que o enunciado corresponda aos acontecimentos. A verdade não se refere às próprias coisas e aos próprios fatos (como acontece com a aletheia), mas ao relato e ao enunciado, à linguagem. Seu oposto portanto é a mentira ou a falsificação. As coisas e os fatos ou são reais ou imaginários; os relatos e enunciados sobre eles é que são verdadeiros ou falsos. Não há nenhum espaço para o perspectivismo, pontos de vista ou liberdade interpretativa, a ‘verdade’ é em si e não a partir da visão do sujeito.
HEBRAICO
“Não exageres o culto da verdade, não há homem que ao fim de um dia não tenha mentido com razão muitas vezes” – Jorge Luis Borges (1899), Elogio da Sombra. Em hebraico ‘verdade’ se diz emunah e significa ‘confiança’. Agora são as pessoas e é Deus quem são verdadeiros. Um Deus verdadeiro ou um amigo verdadeiro são aqueles que cumprem o que prometem, são fieis à palavra dada ou a um pacto feito; enfim, não traem a confiança.
A verdade se relaciona com a presença, com a espera de que aquilo que foi prometido ou pactuado irá cumprir-se ou acontecer. Emunah é uma palavra de mesma origem que amém, que significa ‘que assim seja’. A verdade é uma crença fundada na esperança e na confiança, referidas ao futuro, ao que será ou virá. Sua forma mais elevada é a revelação divina e sua expressão mais perfeita é a profecia.
“A verdade é tão simples que não deleita: são os erros e ficções que pela sua variedade nos encantam” – Marquês de Marica (1773 – 1848)
Aletheia se refere ao que as coisas são; veritas aos fatos que foram; emunah se refere às ações e coisas que serão. A nossa concepção de verdade é uma síntese dessas três fontes e por isso se refere às coisas presentes, como na aletheia, aos fatos passados e à linguagem, como na veritas, e às coisas futuras, como na emunah. Também se refere à própria realidade, como aletheia, à linguagem, como veritas, e à confiança-esperança, como na emunah.
‘Verdade subjetiva’, ‘verdade perspectiva’, ‘verdade histórica’...
Dentro dessas três tradições, a verdade pode ser considerada como a “concordância entre a afirmação e a conjuntura real”. O critério supremo seria o de ser ‘objetivo’, uma impossibilidade humana para assuntos mais complexos do que matizes de cores ou provas matemáticas. Independente da questão da validade da unidade, que não é apenas interesse da filosofia, seria interessante analisar a importância da verdade diante do erro ou da mentira, isto é, de um lado com o que se costuma chamar de vontade da verdade (que se apresenta de várias formas — desde o sarcasmo ao fanatismo, até a atitude legítima diante da vida, da verdade) e, de outro lado, com a verdade na fidelidade da memória, que é instável, subjetiva e perspectiva.
A ‘arte da verdade’
Na arte existe uma forma extrema de realismo denominada verismo na qual o artista propõe-se a reproduzir com exata veracidade a aparência de seu tema, repudiando a idealização e toda a interpretação imaginativa. O termo já foi aplicado aos extremos mais realistas da escultura retratística romana. Mas adentra completamente na discussão do texto quando se percebe que este mesmo termo é utilizado também para designar uma forma específica de surrealismo que afirma reproduzir imagens de alucinação e sonho com detalhes exatos e sem qualquer tipo de seleção ou alteração.
Essa possibilidade — ou presunção? — de não alterar o sonho, de compreendê-lo visualmente com perfeição e poder materializá-lo em arte sem qualquer forma de alteração, nos dá a dimensão do quanto o conceito de ‘verdade’ é um complexo envolto em diversos simulacros de simplicidade com possibilidades dogmáticas.

Exposição

Recebi este texto e achei legal divulgar...
Mario Persona
A exposição do que uma caixa de sabão em pó é e faz normalmente passa bem pela aceitação do mercado. Mas ainda existe preconceito contra a exposição de marcas e competências pessoais, talvez pela grande carga cultural que recebemos de que não devemos "fazer propaganda" de nós mesmos. Sempre que nos expomos ficamos sujeitos ao bom tempo, mas também às tempestades críticas. O que fazer? Se nos detivermos a escutar todas as opiniões, nunca vamos sair do lugar. Que o profissional hoje deve se expor, não resta dúvida. Que isso poderá ser mal interpretado, idem. Porém, com a mudança do paradigma do emprego para um paradigma de prestação de serviços, existe a necessidade de cada profissional trabalhar muito bem sua imagem e pregá-la no poste da exposição pública. Para ser conhecido por muitos, contratado por alguns e execrado pelo resto. A pergunta é conhecida: Por que razão ninguém come ovos de pata? Porque pata não canta quando põe ovos. A galinha sim. Quem já morou nos EUA sabe que lá existe uma cultura diferente a respeito disso. Desde a escola as pessoas são estimuladas a se expor, em discursos, apresentações artísticas, teatro, esportes etc. Até em enterro tem um monte de gente, inclusive jovens, que faz discursos. Numa high school lá eu morria de vergonha quando via colegas de classe indo à frente declamar um poema como se estivessem em um palco, e isso numa aula equivalente a uma aula de português aqui. Uma amiga me avisou que virei tema de comentários (todos negativos) numa comunidade chamada "As piores descrições do Orkut".* Ali fui chamado de Pavão, "maria-vai-com-as-outras", autor de auto-ajuda, mané, modorrento, spammer, "rei-do-marketing- palestrante-motivacional" e outros adjetivos chulos que prefiro não repetir aqui. Pelo jeito as 15 pessoas que dedicaram seu tempo a tecer críticas visitaram meu site, meu blog e leram algumas de minhas crônicas.
Diverti-me um bocado com os comentários. Por que? É que tinha acabado de assistir "Piratas do Caribe", com a atuação ímpar de Johnny Depp no papel do Pirata, e chamou minha atenção um diálogo que ocorre entre ele e o Comodoro, logo após o Pirata salvar do afogamento a mocinha prometida ao Comodoro:
- Só um tiro e nenhuma munição extra. Uma bússola que não aponta para o Norte... - ironiza o Comodoro Rorrington, examinando os pertences do pirata que acaba de ser algemado. Desembainha a espada do prisioneiro e acrescenta:
- E eu quase esperava que fosse feita de madeira.
Sem dúvida alguma você é o pior pirata de quem já ouvi falar.
- Mas você já ouviu falar - retruca Jack, o Pirata.

domingo, dezembro 19, 2004

Será?

A vida é uma
e uma só
A juventude passa
e passa logo

Então por que gastá-la com lágrimas...
...se posso viver com alegria?
Por que lamentar ...
...se posso celebrar?

A vida tem seus desatinos,
talvez seja isso.
Em certos momentos, convém cometer um.

Geladeira

Abro a porta da geladeira,
quanta comida!
Não quero nada.

Abro a porta da geladeira,
está vazia!
Não vejo nada.

Abro a porta da geladeira,
que agonia!
Não tenho nada.

Abro a porta da minha vida,
está vazia!
Não vejo nada.

Abro a porta da geladeira,
quero respostas.
Então, não faltará mais nada.

Alvorada despertante
no meu ser
deslumbrante

Alvorada despertante
no meu ser
radiante

Alvorada despertante
no meu ser
desconcertante

Alvorada retumbante
no meu ser, o seu ser
nós dois, amantes.